segunda-feira, 3 de julho de 2023

Thriller apud Mansão Sky 2013 : uma análise das representações de intertextualidade nessas produções

Considerações iniciais 


A presente publicação tem a finalidade de apresentar uma possibilidade de análise do videoclipe de Michael Jackson - Thriller (Full Version) | 4K | (Official Music Video) e do comercial da SKY 2013 - Mansão SKY, com vistas a  identificar representações de intertextualidade e interdiscursividade. 

O curta-metragem de 14 minutos de Michael Jackson, "Thriller", revolucionou o gênero de videoclipes para sempre, sendo veiculado em 3 de Outubro de 2009 na plataforma: https://www.youtube.com/watch?v=sOnqjkJTMaA. Aclamado como um dos maiores videoclipes de todos os tempos pela MTV, VH1, Rolling Stone e outros, "Thriller", dirigido por John Landis, também é o único videoclipe selecionado para ser incluído no prestigioso National Film Registry da Biblioteca do Congresso. O outro é um comercial da SKY, que é uma operadora de TV por assinatura via satélite do país. A propaganda Mansão Sky, também conhecida como Novo Michael Jackson Thriller com Gisele Bündchen foi publicada em 28 de fevereiro de 2013, no canal da MRLovaticVEVO, disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=oofwJqRVovg.

Utilizamos como aporte teórico desta investigação, no que se refere à intertextualidade: Bazerman (2004) e Costa (2022), que faz uma releitura do primeiro autor. A intertextualidade é referenciada por Bazerman (2004, p. 86, tradução nossa), enquanto "as relações explícitas e implícitas que um texto ou enunciado tem com outros, sejam anteriores, contemporâneos ou pretensos". Essas relações se estabelecem de modo a evocar representações discursivas e releituras de outras fontes que incidem sobre a situação e posicionamento textual.         Dessa maneira, a intertextualidade tem sua materialidade no diálogo com outros textos e se consubstancia a partir da apreensão dessa construção de significados por parte do leitor/ouvinte/interagente de textos. Isso se concretiza a partir das experiências de vida, dos contatos linguísticos e envolvimento sociocultural desse sujeito interagente com o referido tema em evidência nos textos em análise, o que vai ser determinante para o alcance das representações de intertextualidade.

Bazerman (2004) lista seis técnicas que ilustram o tipo de intertextualidade e interdiscursividade, quais sejam: a) Citação direta, b) Citação indireta, c) Menção de uma pessoa, documento ou declarações, d) Comentar ou avaliar uma declaração, texto ou voz invocada de outra forma, e) Frases reconhecíveis, terminologia ou “voz” de um grupo de pessoas ou documento, f) Ecoar certas formas de comunicação, discussões ou tipos de documento.

A primeira técnica a) remete à adoção de elementos de textos anteriores para construção de significados. A respeito dessa citação, Bazerman (2004) destaca, porém, que a partir dela o segundo autor "tem controle sobre exatamente quais palavras serão citadas, os pontos em que a citação será cortada e o contexto em que será usada" (BAZERMAN, 2004, p. 88, tradução nossa); em b) há uma contemplação pelo produtor do texto de elementos de textos anteriores, porém, com as devidas adequações, conforme o novo contexto; a estratégia c) reflete o uso de menção de pessoas, documentos ou declarações como plano de fundo, suporte ou contraste, partindo do pressuposto que serão reconhecíveis aos leitores/ouvintes/interagentes; a d) se revela mediante avaliação acerca de um conhecimento que se imagina comum, geralmente, sobre um tema ou crenças de fácil reconhecimento dos leitores/ouvintes/interagentes .

As técnicas e) e f) por serem recuperadas mediante implícitos, ou seja, por serem do âmbito extralinguístico, são consideradas como representativas da interdiscursividade. Em e) é adotada a inclusão de tipos reconhecíveis de linguagem, frases e gêneros, os quais evocam mundos sociais particulares, enquanto que em f) são refletidos os recursos de linguagem que referenciam o contexto sociocultural da época (COSTA, 2022). 


Discussão e análise 


Com vistas a uma melhor estruturação da descrição e análise dos recortes visuais dos vídeos em questão, optamos por organizar da seguinte forma: primeiro, realizaremos descrição geral acerca das comunicações visuais a serem comparadas; em seguida, apresentaremos as imagens e depois, teceremos análise, com base nas técnicas de representação de intertextualidade (BAZERMAN, 2004).

Observamos que os dois vídeos contemplam cenário tenebroso, com alusão à casa mal assombrada, localizada em região sem vizinhança, marcado por tons escuros, em especial, cinza, preto, dando aspecto de sombrio, com vegetação ao redor.


Imagem 1- Videoclipe Thriller


Imagem 2- Propaganda da Sky

Fonte: Captura de tela feita pela autora diretamente do canal do YouTube


Em observância às Imagens 1 e 2, percebemos que as casas do desenrolar da cena principal são semelhantes, com aspectos de envelhecimento, ainda que com estruturas arquitetônicas diferenciadas, antiga e mais recente, respectivamente, o que nos remete à utilização da estratégia de citação direta (BAZERMAN, 2004) pelo produtor da propaganda da Sky em relação ao videoclipe Thriller. 

Além disso, notamos a presença de personagens que interagem diretamente com os protagonistas (namorada no vídeo da Imagem 1 e entregador da Sky,  no vídeo da Imagem 2), porém, em enredos diversos e com vestimentas típicas de contextos socioculturais também diferentes). A confirmação dessa adequação se intensifica pela escolha do carro que compõe o texto visual nas duas produções, em específico,  na Imagem 2, ao identificarmos que o veículo escolhido para compor o visual e ser usado pelo referido entregador é uma versão mais moderna de carro hatch. Dessa maneira, inferimos que a técnica da citação indireta (BAZERMAN, 2004) foi a escolhida pelo produtor do texto comercial da Sky, considerando suas adequações feitas na produção. Entretanto, no que se refere à música de fundo da Imagem 2, foi adotada a canção do videoclipe da Imagem 1, sem alterações, o que nos autoriza a reconhecer essa estratégia de intertextualidade como citação direta (BAZERMAN, 2004). 

Adiante, trazemos um recorte de imagens que versa sobre as mesmas escolhas de fonte, da seleção da cor vermelha como destaque e com mesmo plano de fundo escuro, sombrio, bem como se referem ao mesmo campo semântico do terror. 

 

Imagem 3- Videoclipe Thriller


Imagem 4- Propaganda da Sky

Fonte: Captura de tela feita pela autora diretamente do canal do YouTube


A partir das imagens 3 e 4, constatamos semelhanças entre a composição do visual e linguístico. O jogo com as palavras adotado na propaganda da Sky é uma referência indireta ao título da canção de Michael Jackson. Este é posto como paralelo ao nome do produto que está sendo anunciado (Sky), enquanto que Thriller é contemplado de forma aportuguesada (Terror) na Imagem 4. Ademais, permanecem inalteradas as cores, a ênfase dada ao conteúdo linguístico pela fonte, estilo e fundo sombrio. Assim, defendemos que a técnica da menção indireta foi a técnica adotada (BAZERMAN, 2004), uma vez que há alusão verbal ao filme sem realmente mencionar seu nome (COSTA, 2022).

Ainda em relação ao contraste de cores, percebemos que ambos os vídeos exploram com bastante recorrência a tonalidade vermelha e preta, em especial nos protagonistas, que usam roupas nesses tons, bem como maquiagem e calçados. Por essas pistas de paleta de cores e também das ações dos personagens protagonistas, conseguimos relacionar a atuação entre Michael Jackson e Gisele Bündchen, enquanto resgatadores, respectivamente, da personagem (representada como possível namorada de Jackson no primeiro videoclipe) e do entregador da Sky, na propaganda.


Imagem 5- Videoclipe Thriller


Imagem 6- Propaganda da Sky

Fonte: Captura de tela feita pela autora diretamente do canal do YouTube


A partir da comparação das comunicações visuais expressas nas Imagens 5 e 6, concebemos, enquanto técnica abordada, a menção indireta  (BAZERMAN, 2004) das celebridades Gisele Bündchen e Michael Jackson como plano de contraste nas produções audiovisuais.

Constatamos ainda que há alguns personagens presentes na propaganda da Sky que ecoam séries de televisão, contos clássicos, batalhas medievais, e do âmbito da ficção, os quais marcaram a cultura popular, tais como: fantasma, Corcunda de Notredame, Frankenstein, Lobisomem, Família Addams: em especial Mortícia Addams (que tem aparência de vampira) sendo referenciada por Gisele Bundchen, o corvo categorizando a Wandinha, a senhora do retrato fixado na parede que mexe os olhos, aludindo à vovó Addams, os quais alguns podem ser recuperados com base na imagem, a seguir: 


Imagem 7- Personagens de ficção na propaganda Sky

Fonte: Captura de tela feita pela autora diretamente do canal do YouTube


Nessa perspectiva, sinalizamos que essa estratégia intertextual é uma referência interdiscursiva, por ser recuperável a partir de implícitos, o que nos autoriza a caracterizá-la como a técnica e) uso de tipos reconhecíveis de linguagens,  frases ou gêneros  (BAZERMAN, 2004).

Ainda nesse contexto final da propaganda que reúne os personagens sentados e usufruindo do pacote de serviços da Sky , a protagonista comenta: "Ainda bem que agora a gente tem Sky, que essa casa tava meio morta, né?", o que provoca mudança de expressões nos rostos dos personagens e um direcionamento de olhar deles para ela (acompanhado de um momento de silêncio), o que nos sugere o não entendimento a priori do comentário, mas é seguido de risos como se tivessem, então, compreendido, consoante Imagem 8. Essa relação entre o que a Sky representa e o que esses personagens e cenário como um todo expressam é inversamente proporcional, se reconhecermos de forma implícita que são referências antigas e mórbidas, enquanto que o slogan reforçado pela operadora, na Imagem 9, é: “Sky, você na frente sempre”. 


Imagem 8-Momento de compreensão do comentário da protagonista


Imagem 9- Momento de reforço do slogan da Sky

 Fonte: Captura de tela feita pela autora diretamente do canal do YouTube


    Com base nas ativações possíveis de significados, a partir das Imagens 8 e 9, bem como do que é dito pela protagonista em ambas as situações, percebemos o uso das técnicas de avaliação de texto invocado e do ecoar de certas formas de comunicação (BAZERMAN, 2004), se entendermos que o enunciado  "Ainda bem que agora a gente tem Sky, que essa casa tava meio morta, né?" é típico de dado contexto sociocultural, mais contemporâneo, e não de outro, a exemplo do medieval e da década de 90. Observemos a seguinte construção “ainda bem que...que”, com marcas de informalidade e repetição, bem como de redução de vocábulos, a exemplo de “estava” por “tava”, “não é” para “né”, implicando em uma possível destinação para um público jovem e atual e na pressuposição de que a voz que fala nesse momento é a da própria modelo Gisele e não a da personagem vampira.


Considerações finais


Diante do exposto, percebemos que as técnicas de representação da intertextualidade são adotadas como estratégias para aumentar o envolvimento dos leitores/ouvintes/interagentes e, consequentemente, alcançar o propósito de venda dos produtos da operadora Sky, evidenciando seu diferencial no mercado.

           Pudemos  identificar as seis técnicas mencionadas por Bazerman (2004) na propaganda da Sky tanto em comparação com o videoclipe de Thriller como em relação a outros enunciados. Identificamos, portanto, citação direta, citação indireta, menção de pessoas, uso de "vozes" reconhecíveis de um grupo específico, avaliação de texto invocado e o ecoar de certas formas de comunicação. 


Referências


BAZERMAN, C.  Intertextuality: How texts rely on other texts. In: BAZERMAN, C; PRIOR, P.  (eds.). What writing does and how it does It: An introduction to analyzing texts and textual practices. Mahwah, New Jersey: Lawrence Erlbaum, 83–96, 2004.


COSTA, Giselda dos Santos. Intertextualidade (Bazerman, 2004), 12 out. 2022. In: COSTA, Gilselda dos Santos. Giselda Costa. Disponível em:https://giseldasantoscosta.blogspot.com/2022/10/intertextualidade-bazerman2004.html?m=1Acesso. Acesso em: 22 jun. 2023.


domingo, 2 de julho de 2023

VAMOS MARCAR: ESTRATÉGIAS PERSUASIVAS PRESENTES NA PROPAGANDA DA CERVEJA STELLA ARTOIS

                        

Para citar esta postagem: OLIVEIRA, Ananda Veloso Amorim. VAMOS MARCAR: ESTRATÉGIAS PERSUASIVAS PRESENTES NA PROPAGANDA DA CERVEJA STELLA ARTOIS. In: OLIVEIRA, Ananda Veloso Amorim. Profs. pesquisadores. Teresina, PI, 02 jul. 2023. Disponível em: XXXXXXX Acesso em: XX XXX 20.. 


CONTEXTUALIZAÇÃO


Esta postagem tem o objetivo de apresentar uma análise da propaganda "Vamos Marcar | O Reencontro com Adriana Esteves e Débora Falabella", disponível em https://www.youtube.com/watch?v=oi79JQkp5HE, com base nas metafunções de Lim-Fei e Tan (2017). 

Essas metafunções contribuem para uma análise didática de textos multimodais, com vistas ao desenvolvimento de leitores perspicazes e produtores experientes de textos multimodais, chamando a atenção para as várias estratégias utilizadas na produção desses textos e as maneiras pelas quais escolhas específicas trabalham juntas para alcançar o objetivo comunicativo desejado (LIM-FEI; TAN, 2017).

Os autores subdividem as metafunções em três: mensagem, forma e envolvimento. A primeira se refere às estratégias envolvidas para construção do significado do que está representado; a segunda, às partes do texto e suas funções e a terceira, às estratégias para chamar atenção, que se destacam no visual (LIM-FEI; TAN, 2017).

Com relação à  mensagem, são contemplados o tipo de propósito (Educacional, Entretenimento e Econômico); o que se utiliza para apelar (poder, razão, emoção); o sentido representacional existente (literal e inferencial) e o contexto de produção e recepção.

Quanto à forma, são propostos elementos no que se referem ao visual (exibição principal, foco de atenção, ícone e logo) e à Língua (título, slogan, texto principal, marca, nome do produto, chamada para ação, lista de itens, chamar e visitar informação).

Como elementos de envolvimento, são previstos: proeminência (tamanho, nitidez, primeiro plano, iluminação, contraste da cor); direção (olhar direto, indireto e sem olhar); poder (ângulo alto, baixo e horizontal); intimidade (foto de perto, foto distante e foto média).

Diante dessa breve retomada das metafunções discutidas e adotadas pelos referidos autores, adotamos a seguinte pergunta para direcionar nossa análise: Que tipo de estratégias persuasivas multimodais podem ser identificadas, na publicidade, à luz dos estudos de Lim-Fei e Tan (2017)?


ANÁLISE DA PROPAGANDA


O vídeo foi publicado no canal do YouTube em 22 de junho de 2023 com duração de 1 minuto e 28 segundos, e se consolida em meio à um momento de encontro entre duas atrizes que há 11 anos encenaram como rivais na novela Avenida Brasil. O contexto foi de um reencontro após tanto tempo sem atuarem juntas nas telenovelas, o que resultou em risadas, choro, reconhecimento profissional e apreciação de Stella Artois,  durante o jantar. 


  Imagem I- O reecontro das atrizes

                                    

     Fonte:https://www.youtube.com/watch?v=oi79JQkp5HE











Em relação à mensagem, observamos que o propósito econômico se sobressai, posto que a bebida sempre figura nas cenas, seja em primeiro plano ou segundo. Soma -se a isso a escolha das cores (contraste delas) presentes nas vestimentas das atrizes, na maquiagem de Adriana Esteves e Débora Falabella,  bem como do cenário, das louças presentes à mesa e arranjo de flores, as quais contemplam cores também presentes na garrafa da cerveja, vermelho e branco.

Imagem 2- Contraste das cores nas roupas

      

Imagem 3- Contraste das cores na mesa 

Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=oi79JQkp5HE



A estratégia apelativa predominante é a emoção, considerando o sentido representacional literal de reencontro entre as atrizes, uma vez que o contexto de produção da produção coincide com 11 anos sem atuação juntas e reafirma a aproximação criada pelo produtor a partir do enfoque no ângulo horizontal das duas, o que aproxima mais o leitor/ouvinte/interagente, bem como pela estratégia de foto de perto,  causando a ideia de muita intimidade com o que está sendo representado e com as atrizes, além disso, é recorrente o não olhar ou o indireto são os que se destacam, reverberando como uma estratégia para contemplação do leitor/ouvinte/interagente, com base nas Imagens 4 e 5.

Consoante Lim-Fei e Tan (2017), o olhar indireto, ou seja, aquele que o sujeito representado não olha diretamente para o leitor/ouvinte/interagente tende a firmar o sujeito como um 'objeto' oferecido como um item de informação para contemplação.

Imagem 4- Enquadre de perto







Imagem 5- Direcionamento do Olhar

Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=oi79JQkp5HE



Em essência, conforme Lim-Fei e Tan (2017), os planos médios (retratados até altura do joelho) e close-ups (enquadre de perto da foto) das imagens tendem a criar uma maior sensação de intimidade, permitindo que os leitores/ouvintes/interagentes concentrem-se nos rostos e emoções dos sujeitos, o que pode ser observado nas Imagens 1, 2, 3, 4 e 5,  enquanto os planos gerais tendem a acentuar o ambiente e o espaço que envolve os sujeitos. 

Quanto à forma se destacam  o foco de atenção voltado para o nome do produto de forma explícita e o diferencial pelo contraste das cores. Dentre os elementos adotados para aumentar o envolvimento com os leitores/ouvintes/interagentes, identificamos a reincidência de fotos de perto e de forma mediana. Ademais,o jogo linguístico,  a fonte diferenciada da palavra marcar, no enunciado "Vamos marcar", destacam e constroem relação de sentido com o nome do produto, a marca , fazendo referência a um encontro regado à Stella Artois, enquanto as atrizes brindam. 

Esse enunciado é também sinalizado por Lim-Fei e Tan (2017), enquanto a chamada para ação. Segundo eles, colocada, geralmente, na parte inferior do texto visual, de modo a reforçar as mensagens do título e do texto de apoio, e solicitar alguma ação para o leitor/ouvinte/interagente e por isso pode incluir verbos imperativos, no caso em questão, “marque”, conforme Imagem 6, adiante. 


Imagem 6- Iluminação do ambiente               

 

 Imagem 7- Destaque da palavra marcar

 

Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=oi79JQkp5HE



A iluminação do ambiente contribui também para enfatizar a tonalidade verde da garrafa, sempre disposta com aspecto de bem gelada, o que pode ser inferido pela cor esbranquiçada como se estivesse saindo do freezer. 


CONSIDERAÇÕES


Com base no exposto, identificamos que para alcance do propósito econômico da propaganda, o produtor do texto multimodal faz uso das seguintes estratégias persuasivas: apelo emocional, contexto de produção com sentido literal, contraste de cores remetendo ao nome do produto Stella Artois, enfoque de fotos de perto e numa perspectiva horizontal, iluminação do ambiente de modo a evidenciar a cor verde da garrafa e o jogo linguístico entre o texto escrito e a marca  da cerveja.  


REFERÊNCIA 


LIM-FEI, Victor.; TAN, Kok Yin Serene. Multimodal Translational Research: Teaching Visual Texts. In: Seizov, O. & Wildfeuer, J. (eds.). New studies in multimodality: Conceptual and methodological elaborations. London/New York: Bloomsbury, 2017.


VAMOS MARCAR | O REENCONTRO COM  ADRIANA ESTEVES E DÉBORA FALABELLA. Canal do YouTube Stella Artois, 13 Jun. 2023. Disponível em:  https://www.youtube.com/watch?v=oi79JQkp5HE. Acesso em: 22 Jun. 2023.


quinta-feira, 29 de junho de 2023

RESUMO DO TEXTO DE LIM-FEI E TAN-CHIA (2022)

Esta é uma produção colaborativa via Google Docs, dos seguintes autores: Ananda Oliveira, Francisca Silveline, Saranh Maria, Francisco Carlos, Maria Eduarda e Suellen Deyse.


APRENDIZAGEM MULTIMODAL DE LETRAMENTOS COM TEXTOS DIGITAIS 



POR QUE ALFABETIZAÇÃO MULTIMODAL COM TEXTOS DIGITAIS?


    O primeiro tópico do capítulo apresenta a justificativa de  Lim-Fei e Tan-Chia (2022) para dedicar uma parte de seu livro aos textos que circulam no meio digital. Para isso, eles discutem a história de Avern, um garoto que vêm utilizando um ipad em suas práticas educativas há algum tempo. Com isso, os autores preveem que Avern logo começará a utilizar as redes sociais, locais em que encontramos uma enorme variedade de informações que se manifestam através de textos multimodais. 

A partir dessa ideia, Lim-Fei e Tan-Chia (2022) buscam introduzir a noção de natividade digital, ou seja, a concepção de que uma criança que nasce na era tecnológica já cresce dominando os elementos do meio digital. Porém, os teóricos demonstram através dos estudos de Livingstone et al (2011) e Loh et al (2021) que nem sempre as crianças dominam tais tecnologias no que diz respeito ao seu aspecto pedagógico. Ainda assim, a noção de natividade digital levou os professores a negligenciar o letramento multimodal dos alunos porque já acreditam que eles possuem a habilidade de navegar no ambiente digital e trabalhar com os textos que lá circulam.

No entanto, Lim-Fei e Tan-Chia (2022) compartilham o dado de Schleicher (2011), que afirma que apesar de um quinto dos jovens terem acesso aos computadores, eles não possuem habilidades para navegar no ambiente digital. Nesse sentido, os autores lançam o questionamento final do tópico, e que será o foco de todo o capítulo:  “Como podemos, então, como educadores, preparar nossos jovens para navegar no complexo cenário da informação e armá-los com os conhecimentos necessários por meio de nosso currículo para contestar narrativas e combater falsidades nesta era da 'pós-verdade'? ” (LIM-FEI; TAN-CHIA, 2022, p. 56).


DEFININDO O QUE É “TEXTO DIGITAL” 


Os autores apresentam a concepção de textos digitais na perspectiva da semiótica social,  de modo  a considerar como fatores da digitalização aspectos como:  dinamicidade e interatividade. Quanto ao primeiro aspecto, referem-se à possibilidade  de conjugação dos multi (modos) em um só (escrito, oral, imagético, movimento,  etc) e sobre o segundo, remontam à viabilidade de interação por esses textos, seja via feedback, emoticons, comentários, reações,  dentre outros. 

Ademais, apresentam um Quadro Comum de Referência para  Letramento Digital (CFRIDiL), cujas dimensões apresentadas são: orquestração, comunicação intercultural, tecnologias digitais e habilidades transversais. Essas dimensões direcionam os questionamentos que podem ser feitos para refletirmos como se efetivam na prática esses letramentos digitais e o que demandam. 

A dimensão de orquestração envolve a característica multimodal dos textos digitais e reforça o questionamento: “Como eu faço significados em ambientes digitais?" A dimensão de comunicação intercultural se refere à habilidade de interagir com pessoas diversas e, consequentemente, com culturas também diversas e remete ao questionamento: “Como faço para criar significados com outras pessoas em ambientes digitais?” A dimensão de tecnologias digitais remonta à diversidade de tecnologias disponíveis e à necessidade de saber usá-las, refletindo-se na pergunta: “Como faço para usar as ferramentas de ambientes digitais?” As habilidades transversais envolvem as aptidões pessoais e relacionais que são necessárias para interação digital e reverberam na seguinte questão: “Quais habilidades pessoais e relacionais podem me ajudar a facilitar a comunicação em ambientes digitais?”


METALINGUAGEM PEDAGÓGICA


Lim-Fei e Than-Chia (2022, p. 60) iniciam essa seção com o seguinte questionamento: “Como o uso de uma metalinguagem ajuda os alunos a adquirir sistematicamente os entendimentos conceituais e desenvolver a consciência semiótica necessária para se envolver e responder a textos digitais?”. À vista disso, os autores apresentaram a metalinguagem pedagógica para vídeos em uma escola secundária em Singapura. A recepção dos professores e alunos em relação a esse estudo foi positiva, pois os professores observaram que houve evolução da reflexão crítica dos alunos entre o pré e pós-testes.

A metalinguagem pedagógica para vídeos se organiza em 4 aspectos: características integrais; formas de interação; representação de ideias; interação de significados em vídeos. Esse modelo se diferencia dos textos impressos, pois a análise se expande aos aspectos sonoros presentes no vídeo.

Nas características integrais dos vídeos, ocorre a noção de categorização dos vídeos em diferentes tipos de texto, as características específicas que irão determinar o gênero, por exemplo, em um documentário “inclui narração em off, entrevistas, bem como reencenação e filmagens para estabelecer credibilidade para os relatos” (LIM-FEI; TAN-CHIA, 2022, p. 62).

As formas de interação são os recursos escolhidos para que ocorra envolvimento ou interação entre o telespectador e o personagem ou ambiente. Estes recursos são a nitidez do foco, o contraste de cores, a posição da câmera, a iluminação, a dramatização, a velocidade, os recursos sonoros, dentre outros.

As representações de ideias se referem ao contexto de produção e recepção dos vídeos. Por fim, a interação de significados corresponde à exploração de significados semelhantes e diferentes no vídeo.


RELATO DE EXPERIÊNCIA


    No tópico 4.4 temos a Vinheta sobre Ensino de Alfabetização Multimodal com Textos Digitais em que é contextualizado como ocorreu a experiência realizada pela professora. 

    O projeto foi desenvolvido por Grace, uma professora de inglês em Cingapura que já ensinou aos alunos de diferentes cursos: Expresso, Normal (Acadêmico) e Normal (Técnico). Ela ministrou aulas para uma turma de 22 alunos do Secundário 1 Normal (Técnico), focando no desenvolvimento de suas habilidades de leitura e compreensão de textos digitais, usando diferentes formas de comunicação.

    Grace planejou suas oito aulas, cada uma com duração de uma hora, utilizando uma história apresentada tanto em um livro ilustrado quanto em um vídeo como base. Ela empregou a metalinguagem pedagógica durante o processo de ensino, garantindo que os alunos compreendessem e refletissem sobre os elementos da história. As aulas foram estruturadas de acordo com os processos de aprendizagem, buscando promover a compreensão e o engajamento dos alunos. Nas Lições 1 e 2, Grace mostrou o texto do livro ilustrado "A coisa perdida", de Shaun Tan, e também apresentou o vídeo que retrata a mesma história.

    A narrativa gira em torno de um protagonista que tinha o hábito de colecionar tampinhas de garrafa em sua vida diária, mas sua rotina foi interrompida quando ele descobriu um monstro na praia. Ninguém parecia se importar com o monstro, exceto o protagonista, que o levou para casa e depois empreendeu uma jornada para descobrir seu verdadeiro lugar. Durante a aventura, eles percorreram diversas ruas em busca de um local adequado para o monstro. Após uma busca incansável, o protagonista finalmente encontrou um lugar onde o monstro se encaixava perfeitamente.

    A professora planejou cuidadosamente a experiência de aprendizagem nas aulas, enfatizando a diferença nas escolhas de elementos de linguagem em textos impressos e digitais, que resultaram em significados distintos. As primeiras duas lições serviram como uma introdução ao estudo da recontagem pessoal, explorando os recursos linguísticos utilizados nesse tipo de narrativa.

    Durante as últimas lições, os alunos receberam a tarefa de projetar e descrever um jogo ou um passatempo pessoal para o personagem da história, a Coisa Perdida, e sua família, utilizando uma apresentação de slides. Nas aulas 7 e 8, foi reservado o tempo para avaliar as apresentações multimodais criadas pelos alunos.

    Todas essas aulas serviram para promover o desenvolvimento das habilidades de letramento multimodal dos alunos, ou seja, a capacidade de compreender e criar significado a partir de textos em diferentes formatos, como textos impressos, vídeos e apresentações de slides. Ao utilizar diferentes formatos de texto, a professora ofereceu aos alunos uma variedade de estímulos e recursos para a aprendizagem, o que pode ter aumentado o interesse e a participação dos alunos.

    As atividades propostas nas aulas permitem que os alunos desenvolvam suas habilidades de leitura, compreensão, análise e criação de textos multimodais. Isso é valioso, pois prepara os alunos para lidar com diferentes formas de comunicação em um mundo cada vez mais digital.

No tópico 4.4.3, intitulado como “Lição sobre o livro ilustrado”, os autores apresentam o processo de aprendizagem dos alunos. O encontro entre duas modalidades de textos, o impresso e posteriormente o digital. Nesse tópico os autores apresentam uma espécie de sequência didática realizada em sala de aula, cuja tem como objetivo demonstrar as particularidades do texto impresso, para que logo após isso, apresentasse outra modalidade de texto, nesse caso, o digital. Ainda nesse tópico, fica claro que uma das estratégias de imersão dos alunos na história apresentada pela professora se dá através de perguntas relacionadas ao texto apresentado por ela. 

Já no tópico 4.4.4, trata da “Aula sobre narrativa em vídeo”. Nesse tópico, os autores dão continuidade ao relato de experiência vivido pela professora. No entanto, nesta parte, apresenta-se uma aula voltada para a narrativa em vídeo. Nesse contexto, os autores salientam que a professora apresenta a mesma história vista em texto impresso, só que dessa vez, em formato de vídeo. Com essa ação, os autores destacam que a professora visa fazer um contraste entre as duas modalidades, visando entender os principais pontos observados pelos alunos em relação ao texto digital e o impresso. 

    No tópico “4.4.5 Lição sobre representação”, é destacado que Grace, a professora, atribuiu aos alunos a tarefa de projetar e apresentar um jogo ou hobby para o Lost Thing e sua família usando uma apresentação de slides e os alunos planejaram suas escolhas de jogo ou hobby e organizaram suas apresentações. Nas aulas seguintes, os alunos apresentaram seus jogos e passatempos aos colegas, explicando o que é o jogo, como jogar e compartilhando suas experiências. As apresentações incluíram o uso de imagens e vídeos para torná-las mais envolventes.

    E, por fim, o tópico 4.4.6 abordas as “reflexões de Grace”, onde pôde-se perceber que, além de ter refletido sobre como planejar o aprendizado de letramento multimodal, destacando a importância de orientar os alunos a reconhecer as ordens da tecnologia digital para aumentar o significado e o envolvimento com a história, ela ficou satisfeita com as respostas dos alunos ao vídeo discutido em sala de aula, pois demonstraram consciência semiótica ao utilizar a metalinguagem pedagógica.


CONSIDERAÇÕES FINAIS DO TEXTO


O capítulo explora como as experiências de aprendizado projetadas por Grace apoiam o desenvolvimento de letramento multimodal de Avern, ela  desenvolve sua consciência semiótica ao reconhecer as diferentes maneiras pelas quais os significados são criados em textos impressos e digitais.

Percebe-se que os textos digitais aproveitam as regras da digitalidade para criar significado, e o envolvimento com eles exige habilidades em tecnologias digitais, comunicação intercultural e letramento transversal.

A metalinguagem pedagógica apoia o pensamento dos alunos sobre as escolhas semióticas nos textos multimodais e permite a comparação e compreensão das diferenças de interação de significados entre textos impressos e digitais. Por fim, Grace encoraja os professores a se juntarem a ela no esforço de projetar o próprio letramento multimodal.



REFERÊNCIA

LIM-FEI, Victor; TAN-CHIA, Lydia. Designing learning for multimodal literacy: Teaching viewing and representing. Taylor & Francis, 2022.






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